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Mensagens

O luto e as coisas que nunca superámos

Quantas vezes as fotografias se tornaram memórias? Quantas vezes as conversas se tornaram histórias? Quantas vezes as gargalhadas ficaram guardadas como um eco no silêncio? Quantas vezes a fragilidade se tornou na maior armadilha do tempo? A primeira vez que conheci a dor de perder alguém foi em 2014, na ocasião da morte da minha avó materna. Eu tinha dez anos. Lembro-me do dia em que recebi a notícia e do dia do funeral como se fosse hoje. Passaram-se nove anos e recordar esses dias ainda mexe comigo. Com dez anos fiquei a saber a dura verdade de que ninguém vive para sempre, nem mesmo as pessoas de quem mais gostamos. Depois dessa perda, passei por outras, mas nada com uma dimensão semelhante; apenas vizinhos ou pessoas conhecidas e queridas pela minha família. Até que chegou o dia 24 de fevereiro de 2023. Nesse dia, recebi a notícia do falecimento da minha tia, a irmã da minha mãe, a minha única tia. Nesse dia, voltei a sentir uma dor visceral, inexplicável, senti uma impotência abs...
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Laços de Sangue

Com o passar dos anos e à medida que fui crescendo, fui percebendo que a família é a coisa mais preciosa e importante que temos na vida. Partilhamos o mesmo sangue e a mesma árvore genealógica e agarramo-nos a essas pessoas até ao fim dos nossos dias. Há amigos que vão e que voltam, e há amigos que se tornam parte da nossa família com o passar do tempo. No entanto, perder um membro da família, sobretudo se for uma pessoa mais próxima de nós, é sempre doloroso.  Em 2023, escrevi o texto "O luto e as coisas que nunca superámos" , que foi lido por mais de cem pessoas. Na altura tinha perdido a minha tia há relativamente pouco tempo e estava a ser complicado lidar com o luto e com a perda. Dois anos depois, senti novamente necessidade de escrever sobre este tema porque a minha mãe perdeu outro irmão e eu perdi mais um tio há cerca de quatro meses.  Os primeiros seis meses deste ano foram particularmente complicados porque estava muita coisa a acontecer ao mesmo tempo na minha vid...

A Inquietante Vida dos Adultos

Não consigo dormir com tantas portas abertas na minha cabeça. Fazem muito barulho. Um zunido ensurdecedor. Um sonho que sonhamos de olhos abertos e se confunde com a realidade. Uma aflição que dói na alma. Um filme de memórias, histórias e enredos impossíveis que se fundem num só. Uma roda dentada que luta a todo o custo para parar mas continua a perseguir a luz, o combustível de todos os pensamentos. As vozes indecifráveis que nos dizem o que temos de fazer no dia a seguir, a quem temos de ligar ou mandar mensagem. O corpo que paga e que implora por sossego e por um momento de silêncio. E as noites. As noites de calor que nos mantêm despertos com desconforto e trazem à tona todos os pesadelos. O arrependimento. O arrependimento da manhã seguinte, pelas coisas que deixámos acumular, pelos sonhos que não deixámos voar. A urgência que temos por viver um dia de cada vez e por nos resignarmos à segurança da rotina.  Tudo isso faz-nos repensar aquilo que é mais importante. Faz-nos senti...

Saudades do Agora

 Tenho saudades dos momentos quando eles ainda estão a acontecer. Não sei se é normal ou se é uma coisa minha e característica da idade, mas a verdade é que sou invadida por uma nostalgia gigante quando estou a viver uma coisa pela qual ansiava há muito tempo. Por exemplo, quando estou na praia gosto de estar no meio do mar, com os pés afundados na areia, a olhar e a absorver toda aquela imensidão de azul. Olho para todos os lados e respiro fundo várias vezes para me embriagar com o cheiro a maresia e guardar para sempre na minha mente aquele cenário. Quando estou num evento de família, a partilhar segredos e gargalhadas à mesa, gosto de me manter calada e quieta, apenas a observar tudo o que está a acontecer. Quero guardar na minha mente todos os momentos da melhor forma possível, porque sei que há coisas que nunca mais se vão voltar a repetir, só as vivemos uma vez. O tempo passa e foge das nossas mãos a uma velocidade absurda. Já não somos crianças, mas sim adultos com responsab...

Desabafos de uma estudante universitária #9

 #9 O Estágio e o Fim da Licenciatura  "Linda Leiria, quero cantar-te. Sou estudante da terra distante, sempre vou amar-te." É com muito orgulho que chego ao fim desta etapa. Nos últimos três anos, dediquei-me exclusivamente ao meu curso e não me arrependo disso. Foram três anos de muito trabalho, muito empenho, muita ansiedade, muita dedicação, muitas dores de cabeça e também muitas noites mal dormidas. Creio que já aqui disse isto, mas sempre pensei que ir para a universidade era uma coisa que só acontecia aos outros, aos mais inteligentes, aos mais ricos, aos mais populares, aos que têm a certeza daquilo que querem fazer no futuro. Na minha cabeça, o ensino superior era um desfio tremendo e só os melhores podiam estar à altura. Mas eu estava enganada, porque consegui. Tenho muito orgulho em mim e naquilo que consegui. Mas não foi um percurso fácil. Comecei o primeiro ano com vontade de desistir, com vontade de me ir embora por me sentir demasiado deslocada, desamparada e s...

Porque Escrevo?

Não sei fazer mais nada na vida além de escrever. Escrevo como se a minha sobrevivência dependesse disso. Escrevo com uma urgência que transcende a compreensão humana. Escrevo como se precisasse mais das palavras do que de ar para respirar. Escrevo porque me faltam pessoas para falar sobre os meus problemas e porque o medo da incompreensão é maior que o medo da solidão. Escrevo porque me liberta e porque ajuda a fechar todas as feridas. Mesmo que o que eu diga não faça sentido. Escrevo quando me dói a alma ou quando preciso de manter a calma, tal é a tempestade que vai no meu peito ou na minha cabeça. Escrevo para acreditar mais em mim, talvez assim consiga confiar nas minhas próprias escolhas e intenções, talvez assim consiga exprimir melhor as minhas emoções. Escrevo em prosa e em verso. Escrevo o abstrato e o concreto. Escrevo factos e escrevo opiniões. Escrevo as melodias que fazem aquecer os corações. Escrevo coisas que não partilho com ninguém e coisas que me dão vontade de parti...